Você acorda cansado, dorme mal, sente o coração acelerado e diz para si mesmo: “É só uma fase.”
Mas e se essa fase nunca acabar?
O Brasil vive uma epidemia silenciosa de sofrimento emocional, e os números mostram que o problema já virou questão de saúde pública.
De acordo com dados recentes, 42% dos brasileiros relatam estresse frequente, 68% sofrem de ansiedade e mais de 472 mil afastamentos do trabalho foram registrados por transtornos mentais apenas no último ano.
“Se você não dedicar tempo para se cuidar agora, em breve vai precisar dedicar tempo ao hospital.”
Alerta o psicólogo Fabrício Lemos Guimarães, da Universidade de Brasília.Publicidade
O peso invisível do cansaço mental
Celebrado em 10 de outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental é mais do que uma data simbólica: é um pedido de socorro coletivo. Criado em 1992, o objetivo é lembrar que a mente também adoece, e que cuidar dela é tão essencial quanto cuidar do corpo.
No Brasil, o cenário é alarmante. O país ocupa o 4º lugar no ranking mundial de estresse, segundo a Ipsos, e mais da metade da população nunca procurou ajuda profissional, mesmo relatando sintomas de ansiedade.
Os efeitos desse descuido vão muito além das emoções. O corpo sente, reage e grita, seja com tensão muscular, insônia, gastrite, queda de cabelo ou isolamento social.
“O organismo sinaliza de forma sutil no início, mas, se ignorado, vai intensificando esses alertas”, explica Guimarães.
A mente também precisa de rotina
Para o psicólogo, cuidar da mente deve ser um hábito tão comum quanto escovar os dentes.
Dormir bem, se alimentar de forma equilibrada, fazer atividades físicas e reservar momentos de lazer são os quatro pilares da saúde mental.
Pequenas pausas diárias ajudam a reorganizar o pensamento e equilibrar emoções.
Parece simples, e é. O segredo está na constância.
“Prevenir é mais fácil, mais rápido e menos custoso do que lidar com um surto depressivo ou ansioso”, afirma Guimarães.
Saúde mental e física: uma relação inseparável
O corpo e a mente trabalham em parceria. E quando um adoece, o outro sente.
Estudos indicam que transtornos como ansiedade e depressão aumentam em até 90% o risco de doenças cardíacas.
Além disso, quem cuida da saúde mental vive até 11 anos a mais, segundo o especialista.
Relacionamentos mais equilibrados, foco no trabalho e bem-estar emocional são efeitos diretos de uma mente em paz.
“Estar em um bom relacionamento conjugal pode acrescentar até oito anos de vida”, revela o psicólogo.
O tabu que está ficando para trás
Durante muito tempo, ir ao psicólogo era visto como fraqueza.
Mas esse pensamento, felizmente, está mudando.
Hoje, empresários, artistas e atletas falam abertamente sobre o tema, mostrando que fazer terapia é um ato de coragem e autoconhecimento.
A pandemia, segundo Guimarães, foi um divisor de águas. Ela escancarou fragilidades e mostrou que cuidar da mente é um gesto de sobrevivência emocional.
Quando a tristeza deixa de ser normal
A psiquiatra Daniele Oliveira, professora da Universidade Católica de Brasília, alerta que o primeiro passo para a recuperação é reconhecer os sinais.
Mudanças no sono, irritabilidade, perda de interesse e cansaço constante podem indicar o início de um transtorno.
Ela explica que a tristeza comum é passageira, enquanto a depressão é persistente e sem causa aparente.
“O estresse não deve ser encarado como algo normal. Ele já é um indicativo de desequilíbrio emocional”, afirma a médica.
Prevenir ainda é o melhor remédio
A boa notícia é que o cuidado está mais acessível.
Hoje, há programas gratuitos e online de apoio psicológico, como a Terapia Comunitária Integrativa e o programa de Mindfulness da Unifesp.
Além disso, práticas simples como dançar, caminhar, ouvir música ou meditar são verdadeiros remédios emocionais diários.
“A prevenção em saúde mental protege não apenas o indivíduo, mas toda a sociedade”, conclui Daniele Oliveira.
🧠 Cuidar da mente é coisa de gente forte
Cuidar da saúde mental é um ato de coragem e reconhecer quando é hora de pedir ajuda é um sinal de maturidade emocional, não de fraqueza. Procurar acompanhamento psicológico ou psiquiátrico pode ser essencial para lidar com crises de ansiedade, depressão e outros transtornos que, muitas vezes, não conseguimos enfrentar sozinhos.
“A mente também precisa de manutenção. E quanto antes você buscar ajuda, mais fácil será reencontrar o equilíbrio.”
A terapia, a prática do autoconhecimento e, em alguns casos, o uso de medicamentos prescritos por profissionais qualificados são caminhos legítimos para o bem-estar. O importante é não ignorar os sinais.
Dormir mal, sentir-se sem energia ou perder o interesse nas coisas que antes davam prazer são alertas que merecem atenção.
O cuidado com a mente é um investimento na vida, na sua e na de quem caminha ao seu lado.
