14-X: o míssil brasileiro que pode voar seis vezes a velocidade do som
Imagine um míssil que “surfa” na própria onda de choque enquanto corta o céu a mais de 7 mil quilômetros por hora. Parece coisa de ficção científica, mas esse é o 14-X, o primeiro míssil hipersônico 100% desenvolvido no Brasil.
Batizado em homenagem ao 14-Bis de Santos-Dumont, o projeto quer fazer história novamente, desta vez, no campo da tecnologia militar.
Uma nova corrida pela supremacia tecnológica
A corrida por armas hipersônicas já é uma realidade entre as grandes potências. Estados Unidos, Rússia e China investem bilhões nesse tipo de tecnologia capaz de viajar a mais de Mach 5, cinco vezes a velocidade do som.
Agora, o Brasil se prepara para entrar nesse seleto grupo com um projeto que une inovação, engenharia avançada e, claro, ambição.
O desenvolvimento do míssil é liderado pela Força Aérea Brasileira (FAB), através do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e do Instituto de Estudos Avançados (IEAv), em São José dos Campos (SP).
O nascimento de um projeto audacioso
Tudo começou lá atrás, em 2007, quando o então capitão-engenheiro Tiago Cavalcanti Rolim, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), apresentou uma tese sobre uma aeronave chamada waverider. A ideia era ousada: criar um veículo que usasse a própria onda de choque do ar para se manter em voo, literalmente, surfando no ar.
“O 14-X é um demonstrador tecnológico que avalia a viabilidade de tecnologias hipersônicas no Brasil”, explica a FAB.
Em 2021, o primeiro teste foi realizado no Centro de Lançamento de Alcântara (MA). O míssil, impulsionado por um foguete, atingiu 30 km de altitude e alcançou Mach 6, percorrendo 200 km.
Um motor que desafia a física
O segredo está no motor scramjet, uma das tecnologias mais complexas do mundo.
Diferente dos motores tradicionais, ele usa o próprio ar atmosférico como oxidante, dispensando tanques pesados e permitindo velocidades extremas.
É o mesmo princípio que países como EUA e China tentam dominar há décadas.
O Brasil, ao testar o scramjet com sucesso, deu um passo enorme rumo à autonomia tecnológica.
A meta: autonomia e soberania
O míssil 14-X não foi criado para ser usado imediatamente em combate. Seu principal objetivo é demonstrar que o Brasil é capaz de projetar e construir um sistema hipersônico próprio, sem depender de outras nações.
O plano faz parte da política Nova Indústria Brasil (NIB), lançada em 2024, que prevê até 2033 que o país alcance 50% de autonomia em tecnologias críticas de defesa.
Atualmente, o projeto está na fase 14-XSP, com foco em aprimorar o voo em propulsão aspirada. As próximas etapas vão incluir versões controláveis e manobráveis, até chegar ao modelo 14-XWP, totalmente autônomo e funcional.
Um legado digno de Santos-Dumont
Do 14-Bis ao 14-X, o Brasil mostra que inovação e ousadia ainda correm em nossas veias.
O novo míssil não é apenas um projeto militar, é um símbolo de independência tecnológica e orgulho nacional.
“O Brasil pode ingressar no seleto grupo de nações que detêm o conhecimento técnico e os meios para projetar, construir e rastrear um sistema hipersônico aspirado”, destacou a FAB.
Se der certo, o 14-X não será apenas um marco para a defesa nacional, mas também um novo capítulo na história da engenharia brasileira.
Assista ao teste:
