Quando você pensa em comida da Idade Média, imagina pão seco, mingau e caldo ralo? Pois saiba que os banquetes medievais, organizados por reis, duques e fidalgos, eram um verdadeiro evento social de luxo. Comer bem era apenas parte da experiência. A outra parte era mostrar poder, riqueza e status — e para isso, nada era exagerado demais.
Comer para impressionar: os exageros dos banquetes medievais
Em castelos e palácios, banquetes de até 44 pratos por serviço eram comuns. As carnes favoritas? Javali, lebre, cisne e veado — tudo temperado com misturas absurdas de especiarias raras como gengibre branco, noz-moscada, açafrão e canela. Um único molho podia conter até 17 tipos de temperos diferentes, criando sabores tão intensos que poderiam assustar os paladares modernos.
E não pense que era só comida. As festas vinham acompanhadas de música ao vivo, peças teatrais, apresentações simbólicas e até pirotecnia. Em um banquete na corte de Sabóia, um leitão assado chegava lançando fogo pela boca.
O garfo não existia (e você lavava a mão no lombo de coelhos vivos)
Os convidados comiam com as mãos ou com pequenas facas. Nada de garfo: ele só se popularizou muito tempo depois. Para lavar as mãos entre um vinho e outro, havia dois métodos: potes de água de rosas ou… coelhos vivos amarrados aos bancos. Sim, alguns nobres usavam o dorso dos animais como “guardanapos”.
Além disso, os utensílios de mesa — copos, colheres, bandejas e jarras — eram, em muitos casos, de ouro e prata. Tudo era feito para brilhar, ser admirado e fazer inveja. Em 1384, o duque Luís de Anjou ostentava três mil peças, sendo 10% delas de ouro.
Onde sentar era sinal de poder
Nos banquetes, o anfitrião sentava sozinho, em uma mesa sobre um estrado, sob um dossel. Os convidados se alinhavam em formato de U, com os mais importantes mais próximos ao senhor da casa. O espaço central era reservado aos criados, que serviam a carne, o pão e o vinho sob supervisão de um mordomo nobre.
Tudo seguia uma ordem rígida. Primeiro, vinham frutas, depois sopa, depois as carnes nobres e, por fim, os pratos mais pesados. Cada transição era marcada por fanfarra e apresentações artísticas, que iam de batalhas simuladas a encenações mitológicas. Em 1378, o imperador Carlos IV chegou a recriar a conquista de Jerusalém durante um jantar.
Especiarias como símbolo de riqueza
Açafrão, pimenta-do-reino, cominho, noz-moscada, gengibre... ingredientes comuns hoje eram caríssimos na Idade Média. Importados do Oriente, atravessavam desertos e oceanos até chegar às mãos dos nobres europeus. Usar especiarias em excesso era como espalhar dinheiro pelo prato.
Naquele tempo, temperar bem a comida não era só questão de sabor. Era um ato político e simbólico, uma forma de dizer: “Eu posso ter o que ninguém mais tem”.
Você comeria cisne assado com açúcar e pimenta?
Além das carnes nobres e especiarias, havia o açúcar, que também era artigo de luxo. Ele era usado tanto em sobremesas quanto em pratos salgados. Sim, você poderia provar uma carne de caça temperada com frutas ácidas e... açúcar.
E se isso ainda não te surpreendeu, imagine comer dentro de um castelo comestível feito de carne de aves, coelho, javali e veado — como serviu o papa Clemente VI em sua coroação.
Comer, entreter e se afirmar no topo da sociedade
Mais do que alimentar, os banquetes medievais eram um palco de poder, onde cada detalhe — da toalha à música, do tempero ao prato — comunicava hierarquia, domínio e riqueza. Comer era uma performance.
Hoje, especiarias são baratas e o garfo é banal. Mas naquela época, até o simples ato de comer dizia muito sobre quem você era.
