Nos últimos anos, o TikTok se consolidou como a rede social preferida entre crianças e adolescentes. Segundo dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), quase metade dos jovens entre 11 e 12 anos já consideram a plataforma a sua favorita. Ainda que, oficialmente, o uso do aplicativo seja proibido para menores de 13 anos, muitos burlam a idade mínima e criam perfis falsos para consumir conteúdo.
Essa popularidade, no entanto, vem acompanhada de um alerta preocupante: o crescimento de desafios virais extremamente perigosos, que já resultaram em ferimentos graves e até mortes. Os vídeos frequentemente estimulam jovens a se mutilarem, se sufocarem ou provocarem queimaduras no próprio corpo — sempre com a promessa de curtidas, engajamento e fama.
O algoritmo que atrai o que há de pior
Segundo o pediatra Daniel Becker, médico sanitarista da UFRJ, o algoritmo do TikTok favorece o que gera mais atenção — nem sempre o que é mais saudável ou educativo. "Uma criança preocupada com o peso aos 10 anos pode começar a receber conteúdos que normalizam transtornos alimentares e distorções da própria imagem", alerta.
Ainda mais preocupante é o tempo que essas crianças passam na plataforma. Um levantamento da Qustodio, empresa de controle parental, revelou que a faixa etária de 4 a 18 anos gasta, em média, 107 minutos por dia no TikTok — quase duas horas de exposição diária a conteúdos que podem passar pelos filtros da rede social.
Os desafios mais perigosos do TikTok
A seguir, listamos os principais desafios que já causaram mortes e sérios acidentes:
1. Desafio Benadryl
Nesse desafio, jovens ingerem grandes quantidades do antialérgico Benadryl ou outro antialérgico em busca de alucinações. A dose necessária para causar esse efeito é quase a mesma que pode levar à morte. O excesso do medicamento afeta diretamente o sistema cardiovascular, podendo causar convulsões, arritmias e parada cardíaca. O caso do jovem Jacob Stevens, de 13 anos, que morreu após ingerir 14 comprimidos, causou comoção mundial.
2. Desafio do Apagão (Blackout Challenge)
Consiste em sufocar a si mesmo até desmaiar, enquanto amigos filmam. Ao menos 20 mortes de crianças e adolescentes entre 2021 e 2022 foram associadas a essa prática, segundo levantamento da Bloomberg Businessweek. A garota argentina Milagros Soto, de 12 anos, morreu após participar da trend.
3. Desafio do Desodorante
Crianças inalando desodorante em ambientes fechados para sentir “sensações novas” ou mostrar coragem. O produto contém substâncias químicas altamente tóxicas, como etanol e ácido clorídrico. Em Belo Horizonte, João Vitor Santos Mapa, de apenas 10 anos, morreu após trancar-se no guarda-roupa e inalar o conteúdo de um frasco inteiro.
4. Desafio da Tocha Improvisada
O jovem Mason Dark, de 16 anos, teve 80% do corpo queimado após tentar criar uma tocha usando tinta spray e isqueiro. O spray explodiu, e ele ficou em chamas. O caso ocorreu na Carolina do Norte, EUA, e serve como alerta sobre os riscos de manipular substâncias inflamáveis sem qualquer segurança.
5. Desafio da Rasteira ou Quebra-Crânio
Dois jovens seguram a vítima pelas laterais e a fazem pular — no ar, os “amigos” aplicam uma rasteira, fazendo com que a vítima caia de costas ou de cabeça no chão. A prática pode causar traumatismos, fraturas e até morte. Em Mossoró (RN), uma adolescente morreu após cair e bater a cabeça ao participar da brincadeira.
6. Chromebook Challenge
O que começou como mais uma brincadeira duvidosa nas redes sociais acabou se tornando um verdadeiro pesadelo para escolas e pais. O “desafio” consiste em inserir objetos metálicos como clipes de papel, pinos ou até grafite de lapiseira na entrada de carregamento dos Chromebooks, causando um curto-circuito que pode resultar em fumaça tóxica e até incêndios.
O caso mais alarmante aconteceu em Connecticut, nos Estados Unidos, onde diversas escolas precisaram ser evacuadas após os Chromebooks começarem a soltar fumaça em plena aula.
O papel dos pais e responsáveis
Mais do que restringir o uso do TikTok, especialistas recomendam uma mediação ativa. Isso significa conversar com os filhos, entender o que eles assistem, criar um ambiente de confiança e, sempre que possível, usar ferramentas de controle parental para filtrar conteúdos.
Embora o TikTok afirme remover desafios perigosos e conteúdos nocivos de sua plataforma, os vídeos continuam surgindo, muitas vezes com nomes alternativos ou códigos que escapam do radar automático. A empresa afirma ter 40 mil moderadores e já removeu mais de 78 milhões de contas de menores de idade, mas o problema ainda persiste.
O que fazer?
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Converse com seus filhos sobre os perigos dos desafios online.
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Incentive o pensamento crítico: “Será que isso faz sentido?” “Vale a pena?”
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Instale controles parentais e limite o tempo de uso das redes.
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Esteja atento a mudanças de comportamento, como isolamento, baixa autoestima ou busca por atenção online.
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Dê o exemplo: pratique e incentive o uso consciente das redes sociais.
Conclusão
Os desafios do TikTok são apenas a ponta do iceberg de uma cultura digital que estimula o imediatismo, a validação externa e a viralização a qualquer custo. É urgente que pais, educadores e a sociedade como um todo se unam para proteger nossas crianças da exposição a esses perigos — e para que as redes deixem de ser terreno fértil para tragédias evitáveis.