Quando as enigmáticas múmias do Tarim foram inicialmente desenterradas no final do século XIX, os pesquisadores estavam longe de compreender o intrigante mistério cultural que estavam prestes a explorar. Localizadas nos cemitérios ao redor da bacia do rio Tarim, na atual região autônoma dos uigures de Xinjiang, China, esses corpos mumificados naturalmente, datados de milhares de anos atrás, parecem repousar em um sono sereno.
De aspecto arqueologicamente fascinante, essas múmias preservaram características como estilos de cabelo, vestimentas e acessórios de uma cultura remota, inicialmente sugerindo uma conexão com migrantes indo-europeus. No entanto, a reviravolta surpreendente ocorreu quando análises de DNA modernas revelaram que esses corpos, preservados por cerca de quatro mil anos, pertenciam a um grupo étnico indígena da região, geneticamente diverso de suas populações vizinhas.
Embora rotuladas como "múmias", esses corpos não passaram por rituais de mumificação como no antigo Egito. Sua preservação é resultado da decomposição extremamente lenta, devido ao ambiente frio, seco e salgado da bacia do Tarim, que é simultaneamente uma região hidrográfica sem saída para o mar e um deserto, o Taklimakan.
As múmias, que remontam a um período entre 500 a.C. e 2.100 a.C., exibem cabelos louros, castanhos e ruivos, narizes proeminentes e vestimentas de lã, pele ou couro de bovinos, indicando uma possível conexão com a cultura da Europa Ocidental. Entre elas, destacam-se figuras notáveis como o Homem Chärchän, com mais de 1,80 metro de altura, cabelo avermelhado e barba densa, e a Princesa de Xiaohe, uma mulher de 3.800 anos com cabelos claros, cílios preservados, roupas finas e joias.
Contudo, as múmias do Tarim tornaram-se controversas devido à sua escavação na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, habitada majoritariamente pelos uigures, um grupo étnico muçulmano de língua turca. Em 2011, a retirada de múmias de uma exposição itinerante na China, alegadamente devido à fragilidade para o transporte, adicionou uma dimensão política à narrativa desses corpos antigos, amplificando as tensões já existentes com o governo central de Pequim. O destino dessas múmias continua a ser um elo entre a história, a genética e as complexidades geopolíticas na China antiga.
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