Já imaginou visitar uma igreja histórica e dar de cara com uma imagem sacra completamente transformada? Foi o que aconteceu com a tradicional imagem de Nossa Senhora das Dores, em Pirenópolis (GO). Uma restauração recente deu à santa um novo visual — mais moderno, digamos assim — e isso deixou muitos fiéis indignados.
Com cílios longos, bochechas rosadas, batom e até uma pele mais clara, a santa agora parece saída de um salão de beleza. Mas nem todo mundo gostou da “repaginada”. Afinal, essa não é uma santa qualquer: é uma obra sacra do século 18, carregada de significado espiritual e artístico, que representa a dor de uma mãe ao ver seu filho crucificado.
De ícone da dor à musa da estética?
A imagem, conhecida por transmitir sofrimento e compaixão, perdeu suas lágrimas e expressões de dor — detalhes que há séculos emocionam quem passa por ela. O novo rosto, mais suave e jovial, parece destoar da proposta original.
“Ela está praticamente maquiada com blush. Perdeu a feição de dor. Isso dói na alma da gente”, disse uma devota local.
Mais do que uma questão de gosto, a situação virou problema legal: o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) afirmou que não autorizou a restauração. Agora, a Diocese de Anápolis terá que responder por essa alteração, que foi feita sem o acompanhamento técnico adequado.
Restaurar ou descaracterizar?
Segundo especialistas em arte sacra, imagens antigas como essa exigem um tipo específico de técnica chamada policromia, que usa várias camadas de tinta para reproduzir com precisão texturas, sombras e expressões. A restauração feita em Pirenópolis, no entanto, parece ter usado uma pintura mais simples, de apenas uma cor base — algo que tirou a profundidade e os traços originais da imagem.
O que está em jogo?
A polêmica vai além da estética. Ela levanta questões sobre memória cultural, fé e respeito ao patrimônio histórico. Até quando é válido modificar algo com tanto valor simbólico e espiritual? Qual o limite entre restaurar e reinventar?
No dia 18 de abril, Sexta-feira Santa, a imagem deverá sair em procissão pelas ruas históricas de Pirenópolis. Como será que os fiéis vão reagir ao novo visual da santa?
Curiosidades:
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A técnica de policromia, usada nas imagens sacras antigas, pode levar semanas para ser aplicada corretamente.
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Essa não é a primeira vez que uma restauração causa polêmica. Quem não se lembra do famoso “Ecce Homo” da Espanha, que virou meme mundial após uma tentativa mal feita de restauração?
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O rosto da imagem de Nossa Senhora das Dores, antes da mudança, era baseado na iconografia barroca que buscava expressar emoções humanas profundas — especialmente a dor e o luto.
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