Você já parou para pensar no destino final dos remédios que tomamos? Depois que ingerimos um comprimido ou aplicamos uma pomada, nem tudo é absorvido pelo organismo. O restante, invisível a olho nu, segue pelo esgoto... e vai parar diretamente no meio ambiente.
Com o avanço da tecnologia, cientistas conseguiram detectar vestígios de medicamentos em rios, lagos e até na água que sai da torneira. Antibióticos, anticoncepcionais, analgésicos e antidepressivos já foram encontrados em diferentes ecossistemas — inclusive em locais onde não há nenhuma indústria por perto.
Essas substâncias afetam a vida aquática, desregulam hormônios de animais, geram resistência bacteriana em lavouras e podem voltar para o prato das pessoas. E o pior: isso tudo acontece de forma silenciosa, contínua e invisível.
🧫 Como esses resíduos chegam até você?
O processo é simples. Você toma um remédio, vai ao banheiro e elimina parte dele pela urina. Essa urina passa por estações de tratamento, mas nem sempre os filtros dão conta de reter moléculas tão pequenas. Assim, uma parte dos resíduos vai para rios, mares, lagos e até volta como água potável, em quantidades mínimas — mas com potencial acumulativo.
Estudos mostram que mesmo doses muito pequenas de certos compostos, como os disruptores endócrinos, podem afetar o sistema hormonal de animais e humanos a longo prazo. Em plantas e solos, antibióticos presentes na irrigação favorecem o surgimento de bactérias resistentes, dificultando o combate a infecções no futuro.
🧬 O expossoma e o risco invisível
Esse acúmulo de contaminantes no ambiente compõe o chamado expossoma: o conjunto de exposições químicas e ambientais ao longo da vida que, somadas à predisposição genética, aumentam o risco de doenças. O corpo humano moderno está exposto a um verdadeiro coquetel de poluentes que ninguém vê, mas que estão por toda parte.
E não é apenas culpa da indústria farmacêutica. O uso cotidiano dos medicamentos também tem sua parcela. Sem orientação adequada, muita gente joga remédios vencidos no lixo ou no vaso sanitário, o que só agrava o problema.
🌎 E agora, o que fazer?
Apesar da gravidade do tema, existe esperança. Hoje já existem tecnologias capazes de eliminar até 90% desses resíduos em estações de tratamento avançadas. Além disso, pesquisadores vêm buscando fórmulas que se biodegradem mais rapidamente após o uso, sem causar impactos ambientais.
Mas é preciso fazer a nossa parte. Nunca descarte medicamentos no lixo comum ou na privada. Leve para pontos de coleta em farmácias. E exija das autoridades políticas públicas de controle ambiental mais eficazes.
Afinal, se a natureza começa a tomar remédios por conta do nosso descuido, os efeitos colaterais podem ser bem maiores do que imaginamos.
