A sensação de medo é um resquício da nossa evolução, desenvolvido para aumentar nossas chances de sobrevivência. Ao nos depararmos com algo desconhecido ou potencialmente perigoso, nosso cérebro entra em alerta máximo, preparando o corpo para enfrentar ou escapar da situação. Isso se traduz numa intensa liberação de adrenalina e cortisol, hormônios que aumentam a frequência cardíaca, dilatam as pupilas e redirecionam o fluxo sanguíneo para os músculos. E é por isso que sentimos o famoso “frio na barriga”. Esse mecanismo de defesa nos protege, mas também nos leva a buscar, paradoxalmente, experiências que evocam o medo – como os filmes de terror.
Por que, então, nos divertimos com algo que deveria nos afastar? É aqui que entra o conceito de “medo recreativo”, estudado pelo Recreational Fear Lab, na Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Cientistas investigam como essas experiências de susto controlado se tornaram uma forma de entretenimento. O medo recreativo é comparado a uma “brincadeira séria” que nos permite testar nossos limites e respostas fisiológicas, mas em um ambiente seguro. Um experimento em uma casa assombrada monitorou visitantes com câmeras e dispositivos de frequência cardíaca, revelando que a excitação proporcionada pelos sustos intencionais trouxe sensações de alívio e satisfação para os participantes – e ainda ajudou a regular o estresse.
Além do prazer imediato, o hábito de sentir medo sob controle pode desenvolver em nós uma maior resistência ao estresse e à ansiedade. Mathias Clasen, pesquisador do projeto, explica que fãs de terror aprimoram sua capacidade de regular o medo através da prática. Para o terror ser divertido, deve ser intenso, mas sempre com uma sensação de domínio sobre a experiência, permitindo ajustar os níveis de medo ao gosto de cada um. Em resumo, o medo recreativo é uma forma segura de aprender a enfrentar o desconhecido e aprimorar nossa habilidade de lidar com situações reais e desafiadoras – tudo isso com direito a muitos sustos e diversão!