Você sabia que a pior seca do Cerrado brasileiro em sete séculos foi descoberta graças a estalagmites? Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista Nature Communications revela como essas formações rochosas estão ajudando a entender o impacto do aquecimento global na região central do Brasil.
As estalagmites da Caverna da Onça, localizada no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, contêm segredos do passado climático da Terra. Análises químicas detalhadas dessas rochas mostraram que a região central do Brasil está sofrendo uma seca sem precedentes nos últimos 700 anos, intensificada pelo aquecimento global.
Imagine que a temperatura na região central do Brasil subiu cerca de 1°C a mais do que a média global, que é de 1,5°C. Esse aumento faz com que a água da chuva evapore rapidamente, antes mesmo de penetrar no solo. Isso altera drasticamente os padrões de precipitação, concentrando a chuva em poucos eventos intensos e diminuindo a recarga dos aquíferos, essenciais para manter o fluxo dos rios, como o Rio Tocantins.
Os pesquisadores combinaram dados da Estação Meteorológica de Januária, com registros desde 1915, com as mudanças químicas nas estalagmites. Essa combinação permitiu reconstruir o clima da região até 700 anos atrás! Os resultados mostram que a seca atual é única e está diretamente ligada às mudanças climáticas causadas pelas atividades humanas.
O estudo é ainda mais intrigante porque a Caverna da Onça, diferente de outras cavernas geralmente fechadas, está aberta à variação de temperatura externa. Localizada em um cânion de 200 metros de profundidade, essa caverna permitiu aos cientistas observar como o aumento da evaporação, devido ao aquecimento, altera a química das estalagmites.
Os cientistas descobriram que a tendência de aumento de temperatura começou nos anos 1970 e ainda não atingiu seu pico. Isso sugere que a seca pode piorar ainda mais no futuro. Além das estalagmites, os pesquisadores estão estudando árvores fósseis no mesmo parque, colaborando com biólogos para obter uma visão mais completa das mudanças climáticas na região.