Nos últimos dias, muitas regiões do Brasil têm testemunhado um fenômeno visualmente belo, mas alarmante: o Sol tingido de laranja e a Lua em tons de vermelho. Apesar do fascínio que essas cenas despertam, elas indicam uma preocupação séria com o meio ambiente e a saúde pública. Esses efeitos são, na verdade, resultados diretos das queimadas e da poluição atmosférica.
De acordo com Micael Amore Cecchini, professor do Instituto de Astronomia da USP, essa mudança de cor acontece devido ao espalhamento da luz, um fenômeno intensificado pelas partículas de poluição na atmosfera. Em condições normais, o céu parece azul porque a luz azul é dispersa mais facilmente. Contudo, com a presença de poluentes como fuligem e monóxido de carbono, as cores mais quentes, como laranja e vermelho, dominam o céu, tornando o Sol e a Lua visualmente diferentes.
O Papel das Queimadas e a Ausência de Frentes Frias
As queimadas, concentradas em regiões como Amazônia e Pantanal, liberam enormes quantidades de fumaça que se espalham pelo ar, alcançando áreas distantes como o Sudeste e o Centro-Oeste. A ausência de frentes frias, que normalmente ajudariam a dissipar essas partículas, piora a situação. Sem chuvas e ventos, essas partículas permanecem por mais tempo na atmosfera, resultando em um céu permanentemente alaranjado em muitas áreas.
Além da mudança estética no céu, essa situação traz riscos à saúde. A inalação de partículas tóxicas pode causar sérios problemas respiratórios, sendo comparável a respirar a fumaça de cigarro. O impacto é ainda mais devastador para populações vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios preexistentes.
Outro efeito colateral é a redução da luz solar, que afeta diretamente o crescimento de plantações que dependem de luz intensa. Em tempos de crise climática, essa diminuição pode trazer consequências graves para a agricultura, impactando a produção de alimentos e, por extensão, a economia.
Embora a coloração alaranjada não seja uma consequência direta das mudanças climáticas, há uma conexão importante. O aumento das temperaturas e a escassez de chuvas tornam as queimadas mais frequentes, agravando a poluição atmosférica. Isso gera um ciclo vicioso, onde os incêndios alimentam a poluição, que, por sua vez, intensifica os efeitos visuais no céu e as mudanças no clima.
A Lua também tem mostrado um tom avermelhado, um fenômeno que segue o mesmo princípio de dispersão da luz causado pela poluição. De acordo com a meteorologista Josélia Pegorim, a ausência de chuvas e o aumento da poeira e poluentes no ar contribuem para essa tonalidade. Quanto mais poluído o ar, mais intensa é a cor vermelha.
Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia, reforça a gravidade da situação, destacando que essas belas imagens no céu representam um aviso sombrio. "A cor avermelhada do Sol e da Lua é pintada pela fuligem e pelos gases que intensificam o efeito estufa. Estamos seguindo um caminho perigoso para o futuro do planeta, e isso não é uma questão de opinião, mas de sobrevivência."
Apesar do visual cativante, o céu alaranjado e a Lua vermelha são sinais claros de um planeta em crise. Esses fenômenos nos lembram da urgência de cuidar do meio ambiente. Cuidar do planeta não é só uma questão ecológica — é uma questão de garantir que as futuras gerações tenham um planeta para chamar de lar.
