Já imaginou pagar caro por um medicamento e descobrir que ele é falso?
Pois é exatamente isso que tem acontecido com as famosas canetas emagrecedoras, como o Mounjaro e o Wegovy, que viraram símbolo da perda de peso rápida e ganharam fama nas redes sociais.
Mas o que era para ser uma ferramenta médica controlada se transformou em um perigo crescente e silencioso.
Nos últimos meses, uma investigação revelou a venda ilegal do Mounjaro em farmácias e até na Feira dos Importados de Brasília, um dos maiores centros de comércio popular do país.
O produto, importado de forma irregular, era oferecido a preços que podiam ultrapassar R$ 4 mil.
E o pior: sem qualquer controle de qualidade, procedência ou segurança.

A busca pelo corpo perfeito abriu espaço para um novo tipo de crime
De acordo com a Anvisa, a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, só pode ser vendida com retenção de receita médica, justamente para evitar o uso indiscriminado. Mas a alta demanda e o desejo por resultados rápidos criaram um mercado paralelo onde o risco é alto e a procedência é duvidosa.
“O paciente pode estar injetando desde uma substância inativa até compostos tóxicos, bactérias ou solventes industriais”, alerta o endocrinologista André Camara de Oliveira, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP).
Segundo ele, o uso de produtos falsificados pode causar reações alérgicas severas, sepse e até falência de órgãos.
Casos semelhantes já foram relatados por agências como a FDA (EUA) e a EMA (Europa), mostrando que o problema é global.

Como saber se a caneta é verdadeira?
Em meio a tantas falsificações, detalhes na embalagem podem salvar vidas.
As canetas originais da fabricante Eli Lilly possuem:
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Selos de segurança intactos
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Código de barras legível
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Número de lote e validade em alto relevo
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Logotipo “Lilly” gravado no corpo da caneta e no lacre metálico
Já as falsificadas costumam apresentar rótulos desalinhados, fontes incorretas e ausência de registro no Ministério da Saúde.
Uma forma simples de verificar é checar o número do lote no site da Anvisa ou da própria fabricante. Produtos vendidos em redes sociais ou marketplaces devem ser vistos como suspeitos.
E se você desconfiar do produto?
A endocrinologista Carolina Janovsk, da Unifesp, orienta interromper imediatamente o uso e procurar atendimento médico.
Sintomas como tremores, fraqueza, confusão mental, suor frio ou desmaios podem indicar hipoglicemia causada por substâncias contaminadas.
Ela recomenda guardar a embalagem e o recibo, além de denunciar o caso pelo sistema VigiMed da Anvisa.
Também é possível entrar em contato com a Eli Lilly Brasil pelo telefone 0800 701 0444 ou WhatsApp (11) 5108-0101 para confirmar a autenticidade do lote.
Compra segura é só com receita e em farmácias autorizadas
A endocrinologista Paula Fabrega, do Hospital Sírio-Libanês, reforça que a tirzepatida é patenteada e não pode ser manipulada.
Ou seja, qualquer versão vendida fora das farmácias registradas deve ser considerada ilegal.
“O transporte inadequado compromete a eficácia do produto. Essas canetas precisam de refrigeração e não podem ser congeladas. É um cuidado que muitos vendedores ignoram”, explica Fabrega.
O conselho é simples, mas vital: nunca compre medicamentos por redes sociais, sites duvidosos ou vendedores informais.
O perigo está na pressa
O desejo por resultados imediatos muitas vezes ofusca a prudência.
Mas, quando o assunto é saúde, a pressa pode sair muito mais cara.
O Mounjaro, quando falsificado, não é só uma promessa vazia, é um risco real, capaz de causar danos irreversíveis ao corpo.
No fim das contas, a busca pela beleza rápida pode se transformar em uma corrida perigosa contra a própria vida.